Lúpulo brasileiro: concurso chama atenção para produção nacional

Típico de países frios, o lúpulo é uma planta trepadeira usada para trazer amargor e aroma para a cerveja. Até pouco tempo, especialistas acreditavam não era possível produzi-lo no Brasil. Por isso, o fato de existirem fazendas trabalhando em plantações nacionais é algo tão especial. E ter um concurso focado nesse setor é ainda mais valioso. Em maio, a 2ª edição da Copa Brasileira de Lúpulos em Campinas (SP) reuniu 34 produtores de 9 unidades da federação para uma competição que visa principalmente chamar a atenção e fortalecer a produção do lúpulo brasileiro.

Foram enviadas 87 amostras de 16 variedades diferentes de lúpulo, avaliadas por 24 jurados, entre cientistas e cervejeiros. A premiação ocorreu moldes dos concursos cervejeiros, com medalhas de ouro, prata e bronze em cada categoria. Todas passaram por análise química, para determinar a quantidade de substâncias amargas (alfa-ácidos), e análise sensorial.

A fazenda IraHops, de Itapetininga (SP), levou o prêmio de Melhor Fazenda de Lúpulo 2023 pelo acúmulo de medalhas — duas medalhas de ouro nas categorias Magnum e Crystal e duas de bronze em Saaz e Zeus. O segundo lugar foi para a fazenda Bella Terra, que faturou uma medalha de ouro, duas de prata e uma de bronze. Já o Grupo Petrópolis conquistou duas medalhas de ouro e uma de bronze.

A IraHops é uma fazenda com 20 mil metros quadrados de plantação de lúpulo idealizada pelo engenheiro de produção Fernando Golçalves, que ele administra ao lado do seu pai, Valter Gonçalves. A ideia surgiu por conta do gosto de Fernando pela cerveja artesanal. Atualmente, são produzidas 14 variedades, sendo 4 em escala comercial e 10 experimentalmente. A estimativa de produção para 2024 é de quatro toneladas, revelou o engenheiro ao G1.

Repercussão

O evento teve boa repercussão na mídia geral e especializada e, só por isso, já atingiu parte da sua meta. “A Copa tem três objetivos principais: mostrar a qualidade do lúpulo nacional; realizar a ponte entre agricultor e cervejaria, que é o principal cliente do produtor; e fazer com que o agricultor melhore sua produção”, explicou Duan Ceola, idealizador do projeto e coordenador da Escola Superior de Cerveja e Malte, durante a cerimônia de premiação.

A Copa é co-realizada pela Kalamazoo Natural Solutions, empresa especializada em controle de qualidade para o mercado de lúpulo, que atualmente está na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp, universidade onde foi realizado o concurso. “Conseguimos triplicar as inscrições das amostras em relação à primeira edição da Copa, atingindo nosso principal objetivo, que era criar um ambiente de interação entre os produtores, as cervejarias e os consumidores, gerando oportunidades de negócios e parcerias para fortalecimento do setor”, disse Aureliano Agostinho Dias Meirelles, sócio-fundador da Kalamazoo.

“Agradecemos todos os produtores de lúpulo que entenderam que o grande ganho da copa vai muito além das medalhas e do troféu. O grande ganho está no fortalecimento do setor permeando todas as camadas, pois entendemos, como pesquisadores, egressos do sistema acadêmico, que precisamos andar de mãos dadas, produtor, indústria e academia, para chegarmos mais longe e mais rapidamente”, disse Manuel Barrales, sócio da Kalamazoo, ao Inova Unicamp.

Os participantes da premiação também puderam participar de um Workshop sobre lúpulo na própria Unicamp. E alguns frutos já começaram a surgir. Saíram do concurso dez novas cervejas por meio do contato com a associação das cervejarias da região. O Polo Cervejeiro de Campinas também fez o lançamento de uma semana dedicada ao lúpulo brasileiro.

Ações em prol do lúpulo brasileiro

O Brasil produziu mais de 12 mil toneladas de lúpulo em 2021, de acordo a Aprolúpulo. O Rio de Janeiro é o maior produtor de mudas, com mais de 26 mil unidades no mesmo ano. Teresópolis, onde fica localizada a fazenda do Grupo Petrópolis, recebeu o título de Capital Nacional do Lúpulo do Senado Federal.

Nos últimos anos, o lúpulo brasileiro vem ganhando investimentos de pequenas e grandes empresas. A Ambev também entrou no páreo e montou um centro de beneficiamento em Santa Catarina, se aliando a 16 produtores da região. Já o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) preparou um guia sobre lúpulo para dar instruções aos interessados em entrar na área.

E você? Acha que o lúpulo brasileiro logo poderá competir com o lúpulo importado?