Harmonize cerveja com pratos típicos nacionais
A cozinha brasileiro é rica e diversificada. Que tal conhecer algumas harmonizações de cerveja com pratos típicos para fazer em casa?
No universo da cerveja existe um conceito chamado harmonização cultural. São combinações da bebida com alimentos consagradas pelo uso e pela repetição ao longo dos anos. O café da manhã Bávaro é um exemplo, com a clássica união de Weizenbier (cerveja de trigo) com Weisswrust (salsicha de vitela). E é até curioso como algumas delas existem e persistem mesmo que não “combinem” direito, considerando os preceitos modernos da harmonização. Irlandeses comem ostras com Stout.
Será que o Brasil pode ter algo semelhante? A resposta só o tempo dirá. Mas um dos caminhos para procurar é justamente por meio dos pratos típicos. A comemoração da Proclamação da República, que acontece em 15 de novembro, e que separou de fato Brasil de Portugal, pode ser um bom momento para pensar nisso. Por aqui, nos motivou a buscar cinco harmonizações bem brasileiras. Que tal experimentar em casa?
Feijoada com Witbier
A feijoada é praticamente um símbolo nacional. Talvez um dos pratos típicos mais emblemáticos do Brasil. Apesar da origem ser o Rio de Janeiro, ele simboliza todo o país. E sua história está cercada por um mito: a feijoada não surgiu nas senzalas.
A teoria mais aceita hoje é que seja uma herança eropeia. Entre os séculos 16 e 18, a escassez de alimento gerou receitas que aproveitassem os alimentos ao máximo, sem desperdiçar nada. O cassoulet francês, por exemplo, assim como o cozido madrilenho, da Espanha, eram ensopados de feijões com partes de carne hoje consideradas menos nobres. A região norte de Portugal também teve a sua versão de feijoada, que incluía inclusive pés-de-porco e outros miúdos.
Mas a nossa feijoada foi abrasileirada. O feijão-preto, típico das Américas, se tornou a base. Entre as inclusões, está a carne seca. E os acompanhamentos são modernos e todos nossos: arroz branco, couve refogada, farofa e laranja.
Pode parecer estranho harmonizar um prato tão intenso com uma cerveja tão leve quanto a Witbier — cerveja de trigo de tradição belga feita com cascas de laranja e sementes de coentro. Mas é uma delícia. Ela entra justamente no lugar da laranja. O sabor cítrico deixa o prato mais leve, complementando o sabor terroso do feijão e defumado das carnes. Já a acidez, a carbonatação e o álcool da cerveja ajudam a contrastar a sensação de gordura do prato.
Pato no tucupi com Bock
Típico da região Norte do Brasil, o pato no tucupi é uma receita muito popular no Pará. É elaborado com pato-selvagem banhado no tucupi — um líquido amarelo extraído da raiz da mandioca-brava — e depois temperado com jambu, uma erva típica da região. Para chegar nesse ponto, a carne é temperada e marinada com antecedência para só depois ser refogada e cozida. Agora já amaciada, ela é destrinchada e assada no forno para só depois ser cozida novamente no molho que dá nome ao prato. Por fim, o prato é servido acompanhado de arroz, farinha de mandioca e pimenta-de-cheiro.
O sabor é intenso. Além da carne do pato em si, o tucupi é ácido e tem um aroma marcante e muito próprio. Uma das combinações possíveis é com cervejas mais maltadas e intensas como a Weizenbock. O dulçor dela equilibrará a acidez, ao mesmo tempo que as notas tostadas e de caramelo vão enfatizar o sabor da carne.
Arroz com pequi
O cerrado brasileiro é um bioma fantástico também para a cozinha. E o pequi é um ótimo exemplo. Fruto do pequizeiro, tem sabor forte e levemente adocicado, é bastante oleoso e tem caroço com espinhos. Os primeiros bandeirantes que chegarem na região Centro-Oeste aprenderam a consumi-lo com os povos indígenas.
Não demorou muito o fruto foi para a panela junto com o arroz, dando origem a outra iguaria tradicional brasileira. Para fazer frente ao sabor intenso e contrastar a untuosidade, cervejas com as Session IPAs podem ser uma ótima pedida. Enquanto o prato corta o amargor da bebida, que por sua vez diminui a sensação oleosa, os aromas cítricos da bebida complementam a combinação.
Virado à paulista
O virado à paulista, talvez só superado em popularidade pelo pão na chapa, é uma tradição das segundas-feiras nos estabelecimentos de São Paulo. Suas raízes vem do século XVII, tendo sido inventado pelos bandeirantes. É hoje reconhecido como Patrimônio Imaterial do Estado de São Paulo.
Ele tem inúmeras variações. Mas, em geral, é composto por tutu de feijão, arroz, couve refogada, bacon ou torresmo, acompanhados por bisteca suína e ovo frito. Os sabores são intensos e ricos em gordura e sal, o que o torna um bom candidato para cervejas mais encorpadas. Experimente com uma Bock, que trará notas tostadas e caramelizadas para o prato.
Arroz carreteiro
O arroz carreteiro é uma tradição no Sul do país. Ele teria surgido no século XIX no Rio Grande do Sul como um prato muito consumido pelos carreteiros, condutores que conduziam carroças de transporte de cargas puxadas por bois. Nas longas jornadas, eles levavam o charque (uma espécie de carne-seca), que não precisava de refrigeração. Nas noites frias, preparavam esse prato prático que trazia nutrição e um certo conforto.
Mas hoje o arroz carreito não se reduz a apenas isso. Os ingredientes tradicionais ganharam a companhia da carne bovina picada e refogada, paio, bacon, linguiça, alho, cebola, tomate e cheiro-verde. E a receita admite ainda muitas outras variações.
O teor de gordura do prato é alto e os sabores são intensos, pedindo por uma cerveja igualmente potente. Experimente com uma Belgian Dubbel, cerveja marrom com notas tostadas e caramelizadas, que vão enfatizar o sabor das carnes. Ela também é levemente adocicada, ideal para contrastar o salgado dos embutidos.
E você? Qual o seu prato típico favorito? E com qual cerveja você gosta de consumi-lo? Conte para a gente nos comentários.