Pale Ale: o que é essa cerveja e quais suas variações?
Estilo de cerveja que surgiu na Inglaterra, mas se espalhou pelo mundo, Pale Ale tem muitas variações. Aprenda a diferenciá-las.
Pale Ale é o nome que se dá a uma cerveja de alta fermentação de cor pálida. Mas essa é uma péssima definição, bem vaga e meio técnica, não acha? Infelizmente não existe uma explicação fácil Para entendê-la de fato, é necessário contar uma história com requintes linguísticos e cervejeiros. E para deixar tudo ainda mais confuso, ainda existem vários tipos de Pale Ale pelo mundo hoje, todas diferentes entre si. Que tal a entender melhor tudo isso definitivamente e aprender a diferenciar os diversos estilos por aí?
Afinal, o que é Pale Ale?
A palavra “ale” tem mais de um significado. O principal é cerveja. Há menções a “ealu” já no inglês arcaico. E trata-se, provavelmente, de uma adaptação feita pelos povos das ilhas britânicas a partir da palavra nórdica “øl”, que também significa cerveja. A influência teria vindo da época das invasões vikings, entre o fim do século VII e o começo do XI. Naquele momento, essa cerveja era escura, temperada com várias ervas e podia ter vários outros ingredientes, como mel e frutas. Mas não usava lúpulo.
Acontece que logo a palavra “beer” também apareceu por lá. Era o nome dado para a cerveja feita com lúpulo, que chegava a partir da Europa continental por meio de rotas marítimas que se iniciavam na Alemanha, onde o nome é “bier”, e passava pelos Países Baixos, onde se chama “biere”. Essa distinção se manteve por muito tempo e foi progressivamente se diluindo com o tempo. No século XVIII, elas já eram praticamente sinônimos.
Mas não acaba aí. Cerca de cem anos antes, por volta de 1620, algumas inovações no processo de malteação mudaram a cor da cerveja. Antes, a secagem dos maltes era feita diretamente sobre o fogo, o que torrava e defuma os grãos. Mas com a descoberta do coque, uma espécie de carvão, a técnica foi alterada. A lenha foi substituída. E a queima mais controlada e homogênea não torrava o malte como antes.
Quando a cerveja era feita com esse malte novo, ficava “pale” (pálida). O que na época significava qualquer cor mais clara que marrom, como cobre e âmbar. Assim surge a Pale Ale, que vai se aperfeiçoar com o tempo e com as inovações tecnológicas.
English Pale Ale
A versão inglesa da Pale Ale é a original, com a qual aconteceu a história conta há pouco. Ela se diferencia das demais principalmente porque usa lúpulos ingleses, que exibem características de aroma mais herbáceas e terrosas.
Uma curiosidade interessante é que, apesar de ser tecnicamente viável desde o século XVII, esse tipo de cerveja ficou muito ligado à elite num primeiro momento, só ganhando mais adeptos no século XIX. Só foi se tornar a cerveja mais popular na Inglaterra depois da Segunda Guerra Mundial. No entanto, foi muito exportada nesse meio tempo e se tornou referência para a criação de outros estilos em diversos países. Experimente a também inglesa Morland Old Speckled Hen.
American Pale Ale
Na década de 1970 a cerveja artesanal estava renascendo nos Estados Unidos após ter estado em baixa desde a Lei Seca. Os cervejeiros buscavam também uma identidade nacional para a bebida. Foi então que eles tomaram como base a English Pale Ale e usaram nela variedades de lúpulo norte-americanas, mais frutadas, cítricas e resinosas. Deu certo! E de quebra abriram o caminho para a tendência das cervejas lupuladas, que é forte até hoje e representa um dos principais traços de personalidade da produção do país. Experimente a Hocus Poccus APA Cadabra.
Ou seja, a diferença básica da English Pale Ale e a American Pale Ale está nos aromas e sabores dos lúpulos. No primeiro caso, como já mencionamos, eles são mais terrosos e herbáceos. No segundo, mais frutados, cítricos e resinosos.
Belgian Pale Ale
Os belgas tomaram contato com a English Pale Ale no seu ápice, na metade do século XVIII. Apesar de alguns rótulos terem sido criados nessa época, foi só na metade do século XX, após a Segunda Guerra Mundial, que eles efetivamente se popularizaram.
A Belgian Pale Ale surgiu para atender uma demanda, já presente naquele tempo, de cervejas menos alcoólicas e mais fáceis de beber em volume. Isso porque a grande maioria das cervejas belgas são mais alcoólicas e algumas até mais adocicadas.
Ela preserva as ideias gerais do estilo inglês, como os maltes tostados e amendoados, o lúpulo mais destacado no aroma e o amargor mais elevado, com final seco. Mas também apresenta características da fermentação belga, como um tom frutado e condimentado característico. Experimente a Eisenbahn Pale Ale.
Australian e New Zeland Pale Ale
Aqui, novamente, são os lúpulos que fazem a diferenciação. As variantes plantadas na Austrália e Nova Zelândia tem caráter frutado, lembrando mais frutas tropicais: mamão, caju, frutas amarelas, como pêssego e melão, entre outras. São mais difíceis de achar. Mas vale a pena. Experimente as versões tanto de uma quanto de outra da La Birra, de Caxias do Sul.
India Pale Ale e suas variações
Diferente do que muitos pensam, a India Pale Ale não é tradicional da Índia. Ela tem origem britânica, justamente numa Pale Ale que era exportada para o país asiático entre o final do século XVVII e começo do XX. Para resistir a longa viagem, ela recebia mais lúpulo — técnica essa que não foi inventada por conta dela, mas já existia há algum tempo. Os consumidores eram principalmente oficiais e cidadãos ingleses que estavam por lá, já que naquele tempo era uma colônia.
Ela também foi uma das cervejas adaptadas pelos norte-americanos com lúpulos locais na década de 1970, dando origem à American India Pale Ale. A diferenciação para a versão inglesa funciona da mesma forma: pelos aromas e sabores do lúpulo. Em relação às Pale Ales, ela é mais amarga e alcoólica.
Hoje existem inúmeras variações de IPA, como Session IPA, Black IPA, Belgian IPA, Juicy or Hazy IPA, Double ou Imperial IPA e por aí vai — já tratamos desse assunto aqui.
Qual sua Pale Ale preferida? Conte para a gente nos comentários.