Cervejas ácidas: de patinho feio à tendência cervejeira
Crescimento do mercado e amadurecimento do paladar dos fãs de cervejas artesanais são alguns fatores que explicam o sucesso recente das Sours.
“Essas cervejas eu não consigo vender. Ninguém quer. Elas encalham, porque são muito ruins”, disse, indignado, um dono de bar de Curitiba (PR). Isso foi em 2014, e ele se referia ao trio de cervejas ácidas da linha “Sour Me Not!”, da cervejaria Way Beer, também da capital paranaense.
Essa revolta e estranhamento faziam sentido à época. Afinal, esses rótulos são pioneiros entre as Sours, no Brasil. Para um mercado relativamente novo, aquelas bebidas estavam à frente do seu tempo, com um conceito que faria sucesso apenas anos depois.
Hoje, as cervejas Sours estão “pipocando” em todos os lugares. Grande parte das cervejarias têm, pelo menos, uma opção ácida. Além disso, este ano, o Brasil conquistou nove prêmios na etapa mundial do concurso World Beer Awards, uma das mais prestigiadas competições cervejeiras do mundo. Três deles foram na categoria Sour and Wild Beer.
Por tudo isso, não é exagero dizer que as Sours deixaram de ser o patinho feio das cervejas artesanais para se tornarem uma grande tendência em nosso país. E tem para todos os gostos: das American Sours, com frutas mais simples, até as complexas Wild Ales.
Considerado o primeiro estilo brasileiro, a Catharina Sour é, justamente, uma cerveja ácida. A bebida é de trigo, com acidez lática, semelhante a uma Berliner Weisse, e adicionada de frutas. É leve, refrescante e funciona muito bem para um país tropical. Surgiu em 2016, quando cervejeiros e cervejarias de Santa Catarina se uniram para elaborar e produzir várias cervejas desse estilo.
Desenvolvimento do paladar
Mas, o que mudou de lá para cá? Para mim, o amadurecimento do mercado e do paladar do fã das cervejas artesanais foram fatores decisivos para o sucesso que começa a se revelar.
Apesar da cerveja artesanal brasileira moderna ter seu marco inicial nos anos de 1995 e 1996, com a criação de cervejarias pioneiras, como Dado Bier e Colorado, o mercado demorou para se desenvolver de fato.
No ano 2000, apenas 40 cervejarias operavam em território nacional, segundo o Anuário da Cerveja, divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, em abril. Só em 2009, superamos a primeira centena. Em 2014, eram 257. No final de 2020, o país chegou a 1.383 fábricas, que respondem por cerca de 2,5% de toda a cerveja produzida.
Sem dúvida, o mercado cresceu em produtores e em público. E com o volume, também vem a variedade para atender os diferentes paladares.
Outro movimento importante foi o amadurecimento do paladar do brasileiro, muito acostumado apenas com sabores doces e salgadas. No entanto, com o passar do tempo, os amantes da cerveja começaram a arriscar e passaram a gostar também de bebidas mais ácidas e amargas.
Prova disso é a quantidade de cervejas IPA no mercado, um estilo considerado de alto amargor. E que bom que está acontecendo o mesmo com as bebidas ácidas!