Cerveja divina? Conheça os patronos, Santos e Deuses da cerveja
A condição de bebida divina da cerveja nasceu provavelmente com a própria bebida há seculos atrás. E ao longo da história, ela foi associada a figuras quase míticas.
A cerveja é divina! E não se trata apenas de força de expressão. Ao longo dos cerca de 13 mil anos de história, a bebida foi largamente associada a figuras como deuses, santos e patronos. Um dos principais motivos para isso provavelmente está no processo de fermentação, realizado pelas leveduras, que são microrganismos unicelulares invisíveis a olho nu. Como o homem não tinha conhecimento deles, testemunhava apenas o resultado: após alguns dias, a água com cereais germinados e moídos virava uma bebida gostosa. Um presente divino.
Isso foi muito comum na Idade Antiga. Na Suméria, considerada a primeira grande cidade da Mesopotâmia, a deusa responsável pela cerveja era Ninkasi. E não é de se entranhar que seja uma figura feminina, já que na época era tarefa da mulher cuidar da casa, preparar os alimentos e fazer a bebida.
No Egito, onde o Faraó era meio rei e meio deus, Ramsés III ficou conhecido como o cervejeiro após doar aos sacerdotes de um templo um milhão de litros de cerveja. Já para os romanos, a divindade era Ceres, deusa da agricultura e fertilidade. Aliás, o nome cerveja vem daí. “Cerevisia”, o nome da nossa querida bebida em latim, significava “aos olhos de Ceres”.
Mas foi na Idade Média que a cerveja ganhou vários patronos e santos, reconhecidos oficialmente e por aclamação — já que alguns não necessariamente receberam esse título, mas assim foram considerados pelo povo após realizações importantes relacionadas à bebida.
Santo Agostinho é o patrono oficial da cerveja na Igreja Católica. Filósofo, teólogo, escritor e Bispo, tem duas histórias que relacionam sua figura à cerveja. A primeira diz que ele, um conhecido boêmio, largou esse estilo de vida ao se converter aos 35 anos, iniciando uma trajetória de moderação e dedicação. A segunda diz que se desfez de todos os seus bens de família, com exceção de um terreno, onde construiu um mosteiro que fazia cerveja.
Santo Arnaldo e Santo Arnulf de Metz são outros dois patronos quase contemporâneos entre si. Os nomes, também parecidos, fazem com que sejam muitas vezes confundidos. Até os feitos cervejeiros foram semelhantes. O primeiro é o patrono dos colhedores de lúpulo, pois pregava na região de Brabant, na Bélgica, tradicional produtora dessa matéria-prima. Ele teria conseguido cerveja duas vezes apenas rezando. A primeira vez, quando houve um desabamento do teto da abadia e Flanders, e a segunda, quando servia ao exército belga.
Mas o principal motivo da fama de Santo Arnaldo foi convencer o povo da região a beber cerveja e não água durante a peste negra. Para isso, teria mergulhando seu crucifixo em um barril da bebida para convercer os incrédulos de que a cerveja era santa. Com isso, teria erradicando a praga da região.
Esse mesmo feito é atribuído também a Santo Arnulf de Metz, patrono dos cervejeiros que nasceu na Áustria e ficou conhecido como bispo de Metz. Dizem que quando morreu, não deixou esvaziar uma caneca de cerveja servida a seus seguidores que transportavam o corpo para ser enterrado na Bélgica.
Já o famoso Gambrinus não é santo, mas é outra figura mítica, sendo considerado o patrono não oficial da cerveja. Uma das questões misteriosas a respeito dele é que não se sabe ao certo sua identidade. Em alguns registros, ele aparece como rei de Flanders. Em outros, um cavaleiro medieval. Há quem diga também que era apenas um velho beberrão. No entanto, o mais provável é que sua história tenha sido inspirada em Jan Primus, Duque de Flanders, Brabant, Louvain e Antwerp. A ele é atribuída a introdução do brinde como um costume entre os cervejeiros.
Por fim, mas não menos importante, não podemos deixar de falar de Saint Patrick ou, em bom português, São Patrício. Antes de ser bispo, o padroeiro da Irlanda foi missionário e ficou famoso por ensinar a Santíssima Trindade usando o trevo de três folhas. Não há um fato em vida que o associe à cerveja. Mas a festa em sua comemoração, o Saint Patrick’s Day, comemorado em 17 de setembro, se tornou uma das mais tradicionais festas cervejeiras do mundo.
Há diversos outros patronos da cerveja na história, como São Venceslau, São Columbano, São Lucas, Santa Brígida, Hildegard von Bingen e até Nicholas de Myra — também conhecido como Saint Nicholas ou Santa Claus, que teria inspirado a história do Papai Noel.
Sem dúvida, a cerveja é uma bebida abençoada.