Cerveja artesanal saiu de moda?
No ano passado, a produção de cerveja artesanal ficou estagnada nos Estados Unidos, maior mercado do mundo, e preocupa o setor global; será que a fonte secou?
A curva parou de subir. A produção de cerveja artesanal praticamente estagnou entre 2021 e 2022 nos Estados Unidos — maior mercado mundial nesse segmento, servindo de modelo aos demais países.
De acordo com números divulgados, em abril, pela Brewers Association (BA), o volume absoluto caiu de 24,49 para 24,27 milhões de barris de cerveja no ano passado. No entanto, como o mercado de cerveja nos EUA caiu 3% no geral, o market share das artesanais cresceu um pouco, de 13,1% para 13,2%.
Uma notícia nada animadora para quem investe no setor e que fez muita gente se questionar: será que a moda passou? Bem, aí depende se você é da turma do “copo meio cheio” ou do “copo meio vazio”. Mas uma coisa é fato: o cenário mudou e está longe de ser o mesmo que trouxe o crescimento vertiginoso dos últimos 40 anos.
Outros números
Analisar um único número e achar que isso representa um cenário complexo é um erro. Os demais dados mostram um mercado ainda crescente. Por exemplo, o número de cervejarias nos EUA bateu mais um recorde, chegando a 9.552 fábricas.
No entanto, o número de aberturas de fábricas caiu pelo segundo ano consecutivo e reflete o novo cenário desse mercado: a chegada da maturidade. “Neste mercado cada vez mais maduro e competitivo, o crescimento coletivo da categoria é difícil de acontecer”, explicou Bart Watson, economista chefe da BA, durante entrevista coletiva da entidade.
Watson também enfatiza que 2022 foi um ano de muitas dificuldades. “[O ano] apresentou aos pequenos cervejeiros uma série de desafios, incluindo o aumento dos custos operacionais e de material, além do aumento da concorrência, principalmente na distribuição.”
Se o cenário está mais competitivo para quem distribui os seus produtos — o chope, por exemplo, teve queda de 3% em 2022 —, o consumo local, no qual as cervejarias vendem direto ao público final, aumentou. É a volta da filosofia do “beba local”, que afeta principalmente os brewpubs e taprooms das cervejarias, que cresceram mais do que outras categorias do segmento.
O novo normal
“Estamos em qualquer que seja o novo normal”, disse Watson, na entrevista coletiva. E, de fato, o cenário é outro em relação ao que se vivia até então. A cena está mais madura e competitiva. Então, é de se esperar um crescimento menor nos próximos anos.
Mas isso nem de longe é o fim do mercado, ou o fim da “moda” da cerveja artesanal. É apenas diferente. E o setor vai ter que aprender a navegar nesse novo mar, com novas dificuldades, mas também novas oportunidades — como as cervejas sem álcool e outras bebidas.
Com o relatório, a BA também lançou sua lista anual das 50 maiores cervejarias artesanais dos Estados Unidos. Um dos maiores saltos aconteceu com a Athletic Brewing Co., que saiu da 27ª para a 13ª posição. Trata-se de uma cervejaria especializada em cervejas sem álcool. Um ótimo exemplo, não?