Pioneiras: Monjas Trapistas de Santa Catarina vão criar e produzir cervejas
Para as monjas, a produção de cervejas é uma forma das pessoas se conectarem com uma visão mais leve e feliz da vocação religiosa.
A notícia se espalhou rápido: duas monjas da Ordem Cisterciense da Estrita Observância, também conhecida como Ordem Trapista, estão estudando cerveja na Escola Superior de Cerveja e Malte (ESCM), em Blumenau (SC). O objetivo delas é criar e produzir os próprios rótulos da bebida. O mosteiro das Irmãs Trapistas de Boa Vista, dedicada à Nossa Senhora de Boa Vista, fica em Rio Negrinho (SC) e já produz chocolates e geleias para a comercialização.
O impacto da notícia na comunidade da cerveja foi grande e deixa o Brasil otimista. Isso porque, a Ordem Trapista é mundialmente reconhecida como ótima produtora de cervejas. Mas de acordo com o site da Associação Internacional Trapista, apenas 14 mosteiros, entre dezenas de associados, têm autorização para produzir e comercializar cervejas com a marca Trappist®. Nenhum deles é feminino.
A única iniciativa nesse sentido foi feita na Abadia de Maredret, na Bélgica, que não é vinculada à associação, e onde há produção de rótulos criados pelo cervejeiro John Martin.
Ou seja, Zulema Jacquelin Jofre Palma e Raquel Watzko podem dar origem a algo inédito no Brasil e no mundo: uma cerveja criada e produzida por monjas trapistas, mesmo que não passe pelos trâmites oficiais da associação, que hoje cuida da marca Trappist®.
Origem
O mosteiro das Irmãs Trapistas de Boa Vista é fruto do movimento de duas comunidades trapistas latino-americanas, a chilena, de Nossa Senhora de Quilvo; e a comunidade Novo Mundo no Brasil, casa masculina localizada em Campo do Tenente (PR). O mosteiro também recebeu apoio de outros monastérios do mundo, como alguns produtores de cerveja da Bélgica – e daí surgiu a ideia.
Depois de dois anos de preparação, em 2010, as monjas chegaram à cidade de Rio Negrinho (SC), para iniciar a construção da casa. Em 2013, elas passaram a viver no mosteiro. Os trapistas vivem do seu próprio trabalho e apoiam comunidades carentes. Por isso, produzem e comercializam produtos.
A monja Zulema é chilena e vive no Brasil há 12 anos. Ela diz que foi pega de surpresa com a missão. “Nós conhecemos e estudamos os mosteiros que produzem cerveja, mas não pensamos que seria possível nos envolver com o projeto”, revela.
Já a monja Raquel defende que a cerveja é uma forma de transmitir ao público que a vida monástica também é composta de alegrias. “Quero que, quando provem a nossa cerveja, as pessoas se conectem também com uma visão mais leve e feliz da vocação religiosa, porque nós somos muito felizes vivendo desta forma.”
Ao conhecer a iniciativa, a ESCM subsidiou cursos e equipamentos para que as irmãs obtenham mais conhecimento técnico e possam dar início ao projeto.
História da cerveja
Há séculos, ordem monásticas produzem cervejas. Desde, pelo menos, a Idade Média, monges produzem cervejas para consumo e comercialização. Geralmente, elas são chamadas de “cervejas de abadia”.
O termo “cerveja trapista” é reservado apenas para as bebidas produzidas por monges e monjas dessa ordem específica da igreja católica, ou sob supervisão deles, dentro dos monastérios trapistas, e seguindo as regras da comunidade, como o voto de pobreza. Eles não podem ficar com o lucro, que deve servir a melhorias no mosteiro ou obras de caridade.