Pela negritude da cerveja artesanal brasileira
No Brasil, cerveja artesanal e negritude precisam ser celebradas juntas.
Construir um mercado de cerveja artesanal que possamos chamar de brasileiro tem a ver diretamente com quem produz e quem consome a bebida. E não é difícil perceber que, dentro dos círculos de pessoas envolvidas como produtores e bebedores de cerveja artesanal no país, há necessidade de promover maior diversidade de cor.
O Brasil que cresce em reconhecimento de qualidade das suas cervejas, é o mesmo em que casos de racismo no meio cervejeiro já foram revelados. O que mostra que a mentalidade discriminatória que permeia a sociedade brasileira ecoa também no mundo da cerveja artesanal, chegando, obviamente, em quem trabalha e consome a bebida.
O racismo desrespeita e afasta pessoas do meio cervejeiro. Torna o ambiente hostil a todos aqueles que percebem que, devido à cor de sua pele, poderão ser alvo de olhares de reprovação ou de “piadas” que jorram preconceito.
Tudo isso só joga contra o próprio avanço da cerveja artesanal no país. Isso porque, o mundo cervejeiro só terá o sucesso que deseja alcançar quando for negro também. A negritude é uma enorme parte da riqueza e da criatividade de ser brasileiro, e isso precisa chegar à cerveja.
A negritude na cerveja
A história da cerveja sempre esteve relacionada com cultura e encontro das pessoas. Muito do que se observou na trajetória da cerveja ao longo de milênios só foi possível devido à contribuição de diversos povos ao longo tempo.
Por isso, pensar em fazer algo brasileiro e autêntico, que atinja as pessoas de uma forma verdadeira e atraente, precisa incluir toda a negritude do nosso país.
Em um país de maioria negra, é preciso ver também cervejarias comandadas por negros, espaços cervejeiros frequentados por pessoas pretas e a arte afro-brasileira em rótulos cheios de criatividade.
Felizmente, alguns fatos mostram que isso é possível. No mundo cervejeiro brasileiro, profissionais negros começam a aparecer e se destacar. O grupo “Afrocerva” reúne vários desses profissionais, que mostram que a troca de ideias e conhecimento é o caminho para fortalecer o mercado cervejeiro, sem discriminação.
O presente e o futuro da cerveja artesanal no Brasil dependem dela ser muito mais negra, e isso pode levar a bebida a lugares que nem imaginávamos.