O mercado cervejeiro “pós” pandemia
Apesar dos pesares (que não foram poucos), a pandemia trouxe criatividade e novos caminhos para o mercado cervejeiro.
Hoje inauguro a minha primeira coluna no Cervejar. Nos encontraremos aqui uma vez por mês para refletir sobre novidades do mercado, perspectivas para o futuro, e assuntos gerais que permeiam o nosso beber e trabalhar com cerveja.
Passamos de um ano e meio desde o início de uma pandemia que interrompeu planos e afetou negócios. Faço uma pausa para deixar claro que o “pós” pandemia ainda é com muitas aspas – se vacinar e manter cuidados especiais ainda são extremamente necessários.
Apesar de tantas dificuldades que a pandemia nos trouxe, algumas mudanças positivas, ao meu ver, vem ocorrendo no mercado cervejeiro. Estas mudanças conversam com dois extremos do consumidor cervejeiro: o leigo, que está começando a conhecer e beber cerveja artesanal, e o consumidor conhecedor e ávido por novidades. Tanto o aumento das vendas online, quanto a maior disponibilidade de cervejas artesanais no varejo contribuíram para que o consumidor menos conhecedor de cervejas tivesse acesso a elas.
Quando uma marca tem presença no atendimento online, é muito mais fácil chegar a mais pessoas, e em mais lugares. A venda online também retira uma certa etiqueta ou até mesmo barreira que ainda existe no mundo artesanal. O cliente, dependendo de como é o ambiente e atendimento do bar, pode se sentir mal por não saber o que é ou o que esperar de uma NE DIPA com fruta, lactose e determinado lúpulo que só os geeks conhecem. O atendimento online rompe essa barreira que, infelizmente, ainda é presente em alguns lugares. Claro que ele pode deixar o cliente mais distante das marcas, mas este é assunto para outro dia.
Cervejarias que não olhavam o varejo, começaram a olhá-lo com mais atenção. Aqui citarei a Dádiva como exemplo. O nosso principal canal sempre foi bares e restaurantes, o que fez com que o começo da pandemia tenha sido extremamente duro. Em junho de 2021, lançamos uma nova linha chamada Dádiva Easy, com uma comunicação fácil e direta sobre os estilos. Esta mudança de estratégia não foi rápida – levamos mais de um ano para nos adaptar. Além da criação da linha, atender o varejo significa aguardar cadastros, analisar taxas de contrato (descontos dados pelas redes no pagamento), e fazer negociações complexas. O cadastro e pedido podem levar meses, e até anos.
O mercado mais conhecedor e ávido por novidades ganhou ainda mais criatividade nos últimos meses. Novas cervejarias, ciganas em sua maioria, surgiram produzindo cervejas ainda mais extremas. Lotes menores e a maior disponibilidade das fábricas deram espaço para produções mais arriscadas e mais extremas. As Slush Sours, cervejas com MUITA fruta, e as Triple IPA’s, com quantidades absurdas de lúpulo, são bons exemplos. A pandemia acelerou os processos de criação e a necessidade de olhar novos caminhos. E aqui temos bons exemplos de mudanças positivas no mercado cervejeiro nestes últimos 20 meses.