Existe escola brasileira de cerveja?
Escolas cervejeiras têm tempo de tradição, personalidade própria e relevância mundial. Será que nosso país chegou lá?
Com o crescimento da cerveja artesanal no Brasil, muita gente está sabendo mais sobre o assunto. E uma das primeiras coisas que aprendemos é que existem quatro grandes escolas cervejeiras: alemã, belga, britânica e americana. Mas, e o Brasil? Existe uma escola brasileira de cervejas? Decidi aproveitar o do Dia da Cerveja Brasileira, comemorado em 5 de junho, para esclarecer a questão.
Em primeiro lugar, precisamos entender que grande parte da confusão está na falta de definição do que é uma escola cervejeira. Esse termo não aparece na bibliografia internacional. No entanto, é comum que os livros se refiram frequentemente a tradições ou culturas cervejeiras.
Vários países têm suas tradições, como a França, a Dinamarca e a República Tcheca. Mas, o que os diferencia das grandes escolas? Um dos fatores é exatamente o tamanho e a representatividade no contexto mundial. Foi dentro das escolas que muitos estilos de cervejas surgiram. Além disso, cada uma delas têm características que as diferenciam das demais. Uma espécie de personalidade própria.
A escola americana é a mais recente. E, diferente das demais, que têm séculos de tradição, obteve destaque há apenas poucas décadas. No entanto, os EUA são hoje o maior mercado mundial de cerveja artesanal, com grande influência sobre o mundo todo.
Realidade brasileira
O Brasil é o terceiro maior produtor de cerveja do mundo. Em 2020, foram cerca de 14 bilhões de litros, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Além disso, o número de cervejarias vem crescendo.
No entanto, grande parte dessa produção é de um único estilo de cerveja, a Pilsen comercial (American Lager). O volume das cervejarias artesanais, que produzem os outros 150 estilos catalogados no mundo, está em cerca de 2,5% do total do mercado. O que é muito pouco.
De fato, a cerveja artesanal no país está engatinhando. O renascimento da cerveja artesanal no Brasil, período histórico de resgate das tradições cervejeiras, foi apenas em 1995. Os EUA estão nessa desde a década de 1970.
Além disso, o crescimento no número de cervejarias se deu, especialmente, nos últimos dez anos. Entre 2000 e 2010, o país saiu de 40 cervejarias para 114. Em 2020, no entanto, chegamos a 1.383 cervejarias.
Só agora estamos desenvolvendo os primeiros estilos de cervejas brasileiras e flertando com a construção de uma personalidade nacional. O caminho traçado pela gastronomia, de usar ingredientes tipicamente locais, se mostra como uma das possibilidades mais interessantes. Mas, é apenas um esboço.
Portanto, a resposta é não. O Brasil não é uma escola cervejeira. E não deve se tornar em curto prazo. Primeiro, é necessário que a cerveja nacional se preocupe em construir uma tradição, com estilos e personalidade – um tamanho e maior tempo produção também não faria mal. Só depois, poderemos ter ambição de nos tornar, efetivamente, uma escola. Mas, uma coisa é certa: existe, sim, potencial.